John Wayne em cena do filme Areias de Iwo Jima |
Jornal do Commercio, Recife, 26 de maio de 2007.
Escrito por Fernando Monteiro
Os heróis do cinema são diferentes dos heróis da literatura e de outras narrativas cujos personagens não se confundem com alguém de carne e osso, durante hora e meia de puro fascínio (dependendo da boa mão de roteiristas e diretores, é claro).
Bronco Billy, quase caricato, William S.Hart – cara quadrada e amarrada, caubói taciturno - , Ken Maynard, Tom Mix (chapelão ridículo, acrobata sobre cavalos) e o grisalho Hopalong Cassidy foram alguns dos heróis que vieram antes de Cooper e Wayne, ainda na fase muda, com alguns passando para o cinema sonoro... e, neste, se apagando como estrelas cadentes do Oeste.
Gary Cooper surgiu um pouco antes de John Wayne, e talvez permanecesse o “N°1” enquanto um câncer não lhe foi minando as forças de Montana, e tornando difícil, para ele, enfrentar as durezas da filmagem de um western.
Cooper faleceu em 1961, e, a partir de então, só restou uma unanimidade capaz de ser um nome-gênero (“Filmes de JW”) assumindo o ator – com o seu estilo bem diverso das hesitações e tibiezas de Cooper – a persona que ele desenvolveu, dentro e fora dos westerns, em filmes como Depois do Vendaval, Um fio de Esperança e Hatari!
Calçado com botas texanas ou enfiado numa farda de oficial americano em luta contra o eterno “inimigo” (do qual, parece, sempre necessita o Tio Sam – talvez para comprovar uma viriliadade algo alquebrada), o homem que hoje faria cem anos veio representar o melhor e o pior do cinema que ainda nos faz “madrugar” para assistir à quase “matuta” entrega do Oscar (que Wayne também ganhou, pela sua soberba criação de Rooster Cogburn, o personagem inesquecível de um dos melhores faroestes de mestre Henry Hathaway: The Grit/Bravura Indômita, de 1969).
Seu nome de batismo era Marion Michael Morrison e esse improvável “Marion” havia nascido em 26 de maio de 1907, filho de um farmacêutico e de uma dona de casa tipicamente americana, elogiada pelas boas tortas de maçãs pelos poucos neurônios. Seu filho campeão de futebol americano nunca gostou de ser “Marion” e viria a mudar o nome para John Wayne, fácil de decorar – quando os aplausos dos estádios o motivaram a tentar a sorte nos estúdios de cinema, com seu 1,92 metro de altura, para impressionar logo de cara. E, por falar em caras, a dele tinha aquela confiança (burra?) no futuro protegido por uma estátua da Liberdade de braço levantado alto demais acima das cabeças dos emigrantes – para quem aquela senhora de pedra talvez gostasse de apagar, aqui e ali, a sua tocha elevada côo um sinal de fumaça nas alturas “Torres Gêmeas”...
Marion, isto é, John, cresceu acreditando nos velhos e famosos “valores americanos”. Bom rapaz. Após atuar em muita porcaria (não só do Oeste), o genial John Ford o escalou para viver “Ringo” da obra-prima Stagecoach. Corria o ano de 1939, e o filme viria a se inscrever na história do Cinema dos EUA como avanço decisivo na caminhada dos caubóis para a maturidade psicológica, como personagens broncos redimidos por incertezas e dúvidas. Com esse faroeste em ascético claro-escuro (cujo título aqui foi No tempo das diligências), Wayne despontou ao pleno estrelato.
Ford gostava dele e John passou também pelas mãos do experiente Hawks, em cerca de três filmes bem dirigidos. Um dos quais, o memorável Rio Bravo (no Brasil, Onde começa o inferno, 1959), western da melhor safra dos anos 50, em que o antigo jogador Marion provava que sabia atuar, quando a qualidade era exigida por um diretor inspirado.
Sua mais complexa composição, entretanto, de um personagem da pradaria, teceu sob as ordens de John Ford, mais uma vez. Em 1956, o cineasta-bardo das fronteiras da ambigüidade, resolveu levar para a tela uma excelente novela de Alan Le May, intitulada The Searchers/Rastros de Ódio, que tratava do amor contrariado, do preconceito de raça e de seres machucados pela guerra ou com os corações endurecidos por outros motivos. Ford confiou a Wayne o papel central de Etham Edwards, um ex-militar na caça obsessiva da sobrinha (raptada por guerreiros comanches), até porque Etham não suportava a idéia de que havia crescido e, certamente, teria sido obrigada a se tornar amante e mulher de índios (por ele odiados, como estupradores e assassinos da cunhada, o seu grande amor).
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