Seguidores

segunda-feira, 14 de março de 2011

Ao dia da poesia


Ausência


Subir ao Pico do Amor

e lá em cima

sentir presença de amor.


No Pico do Amor amor não está.

Reina serenidade de nuvens

sussurrando ao coração: Que importa?


Lá embaixo, talvez, amor está,

em lagoa decerto, em grota funda.

Ou? mais encoberto ainda, onde se refugiam

coisas que não são, e tremem de vir a ser.

(1968)


Ausência


Por muito tempo, achei que a ausência é falta.

E lastimava, ignorante, a falta.

Hoje não a lastimo.

Não há falta na ausência.

A ausência é um estar em mim.

E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,

que rio e danço e invento exclamações alegres,

porque a ausência, essa ausência assimilada,

ninguém a rouba mais de mim.



(Carlos Drummond de Andrade)
(Boitempo/Corpo)

(1984)

Nenhum comentário: