«Era uma vez uma princesa que vivia num reino subterrâneo e sonhava com conhecer o mundo dos humanos. Um dia fugiu, e ao chegar à superfície, o sol cegou-a. Com a vista foram-se também embora todo o passado e todas as lembranças que possuía. Mais tarde, o corpo da princesa não resistiu ao calor e ao frio e morreu. Mas seu pai, o rei, sabia que a alma da filha regressaria noutro corpo, noutro tempo, mas regressaria, e ele esperá-la-ia…».
O mundo de Ofélia, a menina do Labirinto, não é de sonhos, ao menos o seu mundo real é o mais tirano possível. Aliás, ela sobrevive não se sabe como em um ambiente onde o ódio e a intolerância estão personificados no Capitão Vidal, o homem com o qual sua mãe casou. Carmen uma mulher frágil que espera um filho de um déspota. Uma mulher que se nega a si mesma por submeter-se ao marido por pura e simplesmente ter em seus pensamentos a idéia de dar um futuro melhor a seus filhos, mas que é claramente infeliz.
Ofélia é uma criança pura, cujo conceito de felicidade é os seus livros de Contos de Fadas, a sua mãe e o irmãozinho que estar por vir. Ela segue uma pequena libélula encantada e chega a um labirinto, que no mundo real existe, mas tudo o que acontece com a menina em seu universo encantado nos faz compreender o teor do filme, e a intenção do diretor em contar uma história que de fato existiu de verdade e que manchou de sangue um país, A Guerra Civil Espanhola. Mas e o labirinto? E a fantasia? Em algumas partes do filme se compreende que a fantasia faz parte dos pensamentos da menina, afinal ela é uma exímia leitora de Contos de Fadas e que no fim para não viver uma história realmente triste, ela se insere neste mundo fantástico onde há um fauno, seres alados e o mal soberano em uma mesa farta na imagem de um homem horripilantemente pálido, de olhos nas mãos e cheio de pelancas.
Particularmente é um filme muito criativo ao explorar o mundo real de um lado e todas as suas crueldades, de outro, o fantástico. Guillermo del Toro foi o mais fascinante possível neste filme,a ousadia ao contar uma história, aliás duas ficcionais (o conto de fadas a história de uma menina e sua família) e outra não ficcional de caráter histórico foi sua grande aposta. Um filme como este não poderia jamais ficar invisível aos olhos da academia, principalmente no quis diz respeito à direção de arte (assinada por Eugenio Caballero), categoria em que foi premiado, e melhor maquiagem que foram entregues a David Marti e Montse Ribe.
Em ação a equipe de maquiagem premiada no Oscar
Adorei rever as atrizes espanholas que já conheço, atuando neste filme, a Maribel Verdú como a Mercedes, a personagem mais forte de toda a história e a Ariadna Gil, como a Carmen, a submissa mãe de Ofélia.
A atriz Ivana Baquero (Ofélia) realmente consegue cativar e emocionar. Atuação brilhante também a do ator Sergi López como o Capitão Vidal, ele encarnou um verdadeiro Hitler. A personagem mais cruel de todas que utiliza de doentios instrumentos de torturas como alicates e martelos, que são golpeados no rosto de seus inimigos quando não lhe informam o que deseja saber. O seu requinte de crueldade além de viciosamente maligno, chega a ser estúpido, pois enquanto sua esposa sofria com as dores de um parto que em seguida lhe levaria a vida, ele assassinava alguém que poderia sim, ajudá-la no momento de sua agonia, o médico. O miserável descobre que o médico que tem sempre ao alcance de sua mão é o informante dos vermelhos e movido pelo ódio o mata. Quem assiste torce por um final infeliz para o Capitão Vidal, pois o satanás no inferno perde para ele. O momento mais festejado são os golpes de faca que ele recebe de Mercedes, principalmente quando ela lhe rasga a boca, uma cena muito bem feita. Todas em que mostravam todos os tipos de ferimentos e golpes a serem desferidos davam um ar de veracidade impressionantes. A cena em que ele costura o ferimento e coloca um tampão é perfeita então, ele toma um conhaque, sente a ferida do rosto doer e o sangue empapa o curativo. Me impressionou saber todo o recurso tecnológico utilizado, até os estampidos dos tiros foram feitos no computador. E mais dolorido ainda é ver ele matando a enteada Ofélia. A menina que morreu sacrificando sua própria vida em nome de outro inocente. A imagem que aparece no início do filme a de uma menina ensangüentada, aparece também no final. No início sabemos o que aconteceu com ela, mas não sabemos o fato que motivou alguém a tirar-lhe a vida e o seu ato heróico devidamente recompensado em um reino que de fato não é deste mundo. Vale à pena ver. E assim termina: «E a princesa reinou com justiça e bondade por muitos e muitos séculos. E a presença dela continua, mas só para os que sabem olhar…»
2 comentários:
O Labirinto de Fauno é fantástico. Assisti tanto na versão original quanto dublada, e o filme não perdeu o encanto. O interessante são os dois planos em que se desenvolve a estória (o plano real e o da fantasia). Enfim, uma película imperdível.
esse eu vi e adorei, tanto que comprei o dvd e não empresto pra ninguem, hehehe...
fantástico!!!
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