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sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Matéria extraída do Correio da Bahia


24/1/2008
O último rebelde
O australiano Heath Ledger, que teve a vida interrompida no auge da fama, deixa filmes inéditos

Margareth Xavier


O cavaleiro das trevas (The dark knight, 2008), em fase de pós-produção, promete muito estardalhaço em sua estréia, prevista para 18 de julho. Não bastasse a natural excitação causada a cada volta do homem-morcego, o filme vai chegar depois da trágica notícia da morte de Heath Ledger, intérprete do cobiçado personagem Coringa. Antes de ganhar as telas, Ledger, que teve sua atuação em O segredo de Brokeback Mountain indicada ao Oscar, já via seu novo trabalho apontado como antológico. Aos 28 anos, depois de viver o arquiinimigo de Batman, um cowboy gay, um poeta viciado, Casanova e um elenco de outros personagens menores, morre e deixa no ar a sensação de que a luz acabou no meio do filme, de um bom filme.
O trailer de O cavaleiro das trevas anuncia o perfil de um Coringa menos risonho e nada serelepe e ajuda a entender tanta expectativa. Tudo é muito diferente da versão de Jack Nicholson (Batman, Tim Burton, 1989), magistral no papel. Com o mesmo nome, em português, da cultuada série de HQ de Frank Miller – só o nome em comum para a continuação de Batman begins –, O cavaleiro aposta em construções mais realistas e chega envolto em uma pesada atmosfera, clima sombrio e embates violentos.
Ledger não deixou por menos e foi buscar sua inspiração em Sid Vicious (1957-1979), ícone da cultura punk e baixista da Sex Pistols, e no ultraviolento Alex, personagem de Laranja mecânica (Stanley Kubrick, 1971). Presentes também estão referências ao sufocante universo dos psicopatas e maníacos internos do Asilo Arkham – que também dá nome a outra grafic novel cara aos batmaníacos, de Grant Morrison. Com tanta referência ao lado negro do universo pop, é natural que sobre o Coringa recaia todo esse peso, recoberto de apostas no desempenho do ator.
Não irá causar estranheza, também, que o já sombrio personagem, suas falas e ações ganhem novas leituras de batfãs mais obstinados. O que o filme vai fazer, ao que o trailer indica, é contribuir para cultuar a imagem de Heath Ledger como mais um talento interrompido no auge da fama. Descendente de escoceses e irlandeses, Ledger nasceu em Perth, na Austrália. Lá mesmo, já com a certeza de que queria ser ator, deixou sua cidade aos 16 anos e seguiu para Sydney. Trabalhou em várias séries de televisão (Clowning around, Bush patrol, Ship to shore e Home and away), até chegar em Hollywood, continuando na tevê e começando no cinema com pequenas participações em produções menores.
Na comédia Dez coisas que eu odeio em você (1999), uma adaptação adolescente de A megera domada, de Shakespeare, fez seu primeiro e já elogiado personagem, na pele do bad boy encarregado de domesticar a mocinha. Seus papéis foram subindo de importância, junto com os cachês e a qualidade das produções, como Gabriel, filho de Mel Gibson em O patriota (2000), de Roland Emmerich. Entre um convite e outro, fez ainda A última ceia, um skatista em Os reis de Dogtown (2005) e Os irmãos Grimm (2005) e Casanova (2005) até a consagração, que veio com O segredo de Brokeback Mountain (2005). Ledger está também em I’m not there (2007), como uma das sete faces de Bob Dylan, e integrava o elenco de The imaginarium of doctor Parnassus, ainda em processo de filmagem.
O ator – que costumava ser comparado a James Dean e considerado o último rebelde do cinema norte-americano – deu vida a Ennis del Mar. Junto com Jack Gyllenhaal, no papel de Jack Twist, em um dos melhores filmes de Ang Lee, contou para o mundo a história de dois vaqueiros que se apaixonam, no interior dos Estados Unidos, em 1963. Durante as filmagens de O segredo de Brokeback Mountain, conheceu Michelle Williams, a Alma Beers do filme, com quem Ennis se casa, também indicada ao Oscar. Michelle e Ledger se casaram, tiveram uma filha – Matilda, hoje com 2 anos, afilhada de Gyllenhall – e estavam separados desde o ano passado, mantendo bom relacionamento e Ledger sendo considerado um pai muito carinhoso.
Para a ex-mulher, pais e amigos, a morte de Ledger foi uma surpresa. Apesar de notícias de diários populares norte-americanos darem conta de uma suposta morte por overdose, o fato é que nada ainda foi comprovado. O ator foi encontrado morto, na cama de seu quarto, em Nova York, pela empregada e pelo massagista. Nenhum sinal de violência ou de confusão. A notícia de que havia pílulas ao lado do corpo foi desmentida. As informações mais recentes davam conta de remédios para dormir encontrados no apartamento.
Muito do que se fala sobre uma possível overdose foi baseado em uma entrevista do próprio Ledger, para o The New York Times, em novembro do ano passado, na qual falou sobre sua necessidade de tomar remédios para dormir, tamanha sua excitação com as filmagens de O cavaleiro das trevas. Há alguns anos, em 2000, o ator fez também uma hoje sugestiva declaração para a Vanity Fair. Na ocasião, afirmou que só fazia cinema porque tinha prazer. Que quando não tivesse mais prazer em atuar, ele simplesmente iria embora. Diante de inúmeras especulações, a família afirma que a morte foi acidental. O serviço forense de Nova York, que autopsiou o corpo do ator, informou que terá de fazer novos exames até concluir sobre as causas da morte.


http://www.correiodabahia.com.br/folhadabahia/noticia.asp?codigo=146234

2 comentários:

Anônimo disse...

Foi duro demais. Um baque daqueles essa perda.

Rodrigo Fernandes disse...

e ainda vem o Jack Nicholson e diz que havia tinha avisado a ele.. um comentário infeliz, soube dessa? entra no meu blog e comente...
abraços